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SINOPSE POÉTICO-ESTRUTURAL

BARRO
Não teme o gozo, o excesso
nem a purga
não se relaxa
e sim, dilata
O que fazemos é o que contamos
e vice-e-versa

BARRO
é tema antigo, primordial
pulsa desde o fundo do poço
circula agora, por nossas veias

BARRO não ironiza
não imita
não resulta interessante
melhor, se expande
como uma paisagem revulsiva
um clima, uma atmosfera
um corpo coletivo



CONTEÚDO TEMÁTICO DESENVOLVIDO


A inveja e a traição entre irmãos
Perguntas que se reiteram:
O que é o homem?
Quem é real?
Quem sou eu?

Barro é um ensaio emocional.
Uma música distante.
Uma atmosfera que se multiplica.










COMO É BARRO


Em BARRO há, no início, três personagens e duas histórias.

A primeiro a fazer-se evidente é uma escaramuça defensiva onde é impossível saber se os personagens estão situados dentro da casa ou presos em suas próprias subjetividades.

A outra, a mais antiga, estará presente todo o tempo, na misteriosa e arrasadora carga que é uma pulsação constante e, as vezes, estouros nas atuações, no porvir individual de cada personagem e suas relações.


Há um irresistível mistério em BARRO. Mas se alguma coisa define sua construção é a intensidade das atuações; que levam até o extremo seus corpos e acontecimentos, onde o espectador não encontrará linearidade fácil ou compreensível, mas que, paradoxalmente, se apresentam com uma contundência tão concreta e tão mordida pelos detalhes, nas palavras, no silêncio, que a história realmente haverá sucedido, devastado a cena aos olhos da plateia, descobrindo-se e que veio de muito longe e possivelmente siga reiterando-se, como o destino inexorável da tragédia.



BARRO se ofereceu primeiro em 2009, em uma larga e exitosa temporada num espaço privado, logo estreia no Teatro El Excéntrico de la 18 em 2010, reestreiando-se novamente na mesma sala (em 2011) dando continuidade às 50 apresentações ininterrompidas.


QUE BUSCAMOS

A obra pode ser percebida de distintos ângulos. 
É um dispositivo atmosférico, simbólico e dramático. Atmosfera é aquilo que convocamos através do tecido que conformam os planos de relato. Os símbolos são chaves para o espectador ativo.

A linha dramática, onde a traição entre irmãos se estabelece como tema, é onde quem vê pode “fazer território”* (*expressão em porteña que nesse caso poderia entender-se que o espectador pode “aferrar-se” desse tema proposto para “navegar” na obra). É onde situa o maneio da intriga. É um teatro intenso-direto-imediato.





IMPRENSA 
(críticas completas – em espanhol – em

http://barrolaobra.blogspot.com->PRENSA)


MONTAJE DECADENTE. Lucas Lagré.

Revista IMPRESSA n3 – ano 2011


Três irmão em uma cabana. Um clima estranhado. Armas e objetos de caça. Um universo masculino, quebrado pelo insistente chamado telefônico de uma mãe preocupada. Então chega o barro. Elemento de criação, primitivo, sagrado. Entidade que suja, tampa, oculta e vela. Com esses componentes Damián Moroni, também diretor e ator da peça, oferece uma dramaturgia que aposta na construção de uma atmosfera de estranhamento onde a linguagem será utilizada, principalmente, em função do seu valor simbólico. É um relato que resiste a enclausurar-se, é o espectador quem deve colaborar na construção de sentido. Para isso, a obra se encarrega constantemente em manter-nos presos em seu dispositivo. Mediante um trabalho que se propõe amplificar as potencialidades expressivas dos corpos dos atores, um excelente uso da intriga e a construção de um clima intimista, esta obra consegue apoderar-se do público e fazê-lo partícipe da perturbação que sentem os personagens. Nesse sentido, há que destacar, tanto o notável trabalho dos atores, como a música ao vivo a cargo de Miranda Nardelli, fundamental na criação dessa atmosfera singular. Um espetáculo distinto, misterioso, que se arrisca em jogar com os limites da teatralidade.


Lucas Lagré


VUENOS AIREZ. Claudia Marocci.

12-05-2011


ONDE ESTÁ QUEM JULGA O FILHO PRODÍGIO? NO FINAL DO CAMINHO HÁ UM LUGAR COMUM AO QUE CHAMAMOS CASA? QUEM DOS TRÊS É O FILHO? OS FILHOS DE QUEM?


Dois irmãos particulares, com os típicos códigos fraternais onde as leis são próprias da relação, se encontram com um terceiro que vem a buscar ou a descobrir o que restou da família.


Como aquela brincadeira de criança “el que se fue a Sevilla perdió su silla”* (*seriam como o provérbio português “quem foi a São Bento perdeu o assento”) , o recém-chegado não só perdeu o seu lugar senão que as regras do jogo mudaram definitivamente.


O ciúmes, a dor acumulada a quem decidiu afastar-se do núcleo e viver a sua própria vida são a desculpa e o reclamo para jogar o filho prodígio aos pés do arrependimento, só que neste caso a misericórdia do pai não funciona, já que o filho chega tarde e por tanto é  justiçado por seus herdeiros. Há várias coisas interessantes nesta obra escrita, dirigida e atuada por Damián Moroni, a primeira é a qualidade e a profundidade de um trabalho sobre os vínculos que permite a criação de gestos e silêncios nos corpos dos atores, marcando o DNA ou código do grupo familiar. Ao ver suas formas expressivas e não expressivas, o espectador reconhece o núcleo que une aos personagens, sem necessidade de contar quem é cada um. Conseguir isso é verdadeiramente difícil e só é possível com um trabalho sério de investigação. A posta em cena, marcando um exterior incerto e perigoso, também mostra, em um sentido, essa ideia de ir até a guarida para se proteger. Por tanto, as entradas e saídas dos personagens têm um porquê e mudam o entorno. A direção de atores, centrada na relação dos corpos vinculando-se tensamente, cada um por seu lado e imantados por cordas invisíveis, são o eixo que une e entretece (entrelaça) os porquês e as perguntas sem resposta. O texto, então, se desenvolve por acumulação de palavras e gestos, gerando uma dramaturgia silenciosa e complexa que soma e soma para abrir interrogantes cujas respostas se desvelam nos corpos dos três atores: Felipe Braga, Juan Manuel Correa e o próprio Damián Moroni. Um parágrafo aparte para a cenografia de Magda Banach, que faz teatral e da sentido a cada um dos objetos e seu contexto, pondo no centro da cena o troféu, isso que se ganha com esforço, com sangue e lágrimas, o objetivo. A música ao vivo de Miranda Nardelli é o pulmão desse monstrinho, gerando climas e contradições. Um grande acerto. Há artistas em busca sincera e arriscada, que investigam por caminhos opostos à lógica para entender ou descobrir um teatro diferente. Abordando linguagens próprios, colocando tensão com o espectador. Esses artistas dão real sentido ao alternativo e geralmente são o que deixam marcas. “Barro” é uma obra ideal para descobrir o trabalho desses artistas em processo criativo. Imperdível para dos os ávidos de um teatro vivo e em constante desenvolvimento.


Claudia Marocci


http://www.vuenosairez.com/criticas-teatro/barro/228



LA NACIÓN. Carlos Pacheco.

08-04-2011 – Publicado em edição impressa.


TRÊS HOMENS QUE QUEREM ESCAPAR DE SEU INTERIOR, UM MARCO OBSCURO.

O ambiente é extremamente sombrio. Dois irmão preparam um plano do qual aportam poucas pistas. Uma mãe os acossa por telefone e isso produz tensão. Um terceiro irmão chega do exterior tratando de por em ordem uns papéis familiares. Se o interior desse pequeno quarto é inquietante, também é o exterior, que sempre terá um protagonismo arrasador. Dalí chegará o barro, essa matéria que da nome à peça e que, em verdade, é a que suja os corpos, molda as formas de elementos que se usarão em cena ou, simplesmente, se converterá em um símbolo de estranhamento, do qual não poderá deixar de reparar-se.

Com uma dramaturgia fragmentada onde, na verdade, apenas se percebe uma história maior, Damián Moroni, em tanto autor e diretor, decide que sejam os corpos dos intérpretes os que expressam um mundo dramático profundo, sempre provocador. Através de seus movimentos, de suas reações, de seus vínculos corporais, os personagens darão conta de um interior muito convulsionado do qual pareceriam não querer escapar. Ou, se decidem fazê-lo, será em conjunto, ainda que nada deles se modifique desde o individual, depois de participar dessa sessão ritualística que expuseram em cena. O espectador deverá completar esse jogo teatral que sempre estará remarcado por uma forte obscuridade, a que escapa continuamente das condutas desses seres.

A música em cena de Miranda Nardelli não só apoia com bons êxitos vários momentos da ação, senão que, sobre tudo, promove climas de forte emotividade. A cenografia de Magda Banach resulta o marco ideal para conter essa realidade opressiva e até quase irracional.


Carlos Pacheco


http://www.lanacion.com.ar/1363668-barro?utm_source...



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